Sala. Penumbra, janela. Cama. Estou só, ferida. Tudo está
escuro. Há somente uma luz que adentra a janela e ilumina alguns móveis, o
carpete e uma parte dos dedos do pé que estão pretos de tinta. Não gosto do que vejo. Estou vulnerável. Contorço-me
de angústias e de dor, segurando minhas felicidades, como um animal que cuida
de sua prole. Ouço ruídos, não vejo nada, mas sinto invadirem o quarto, como
vultos que me rodeiam. Grito verdades ilusórias, no mínimo esperançosas. “Não
irão me tomar!”
A porta se abre.
Estão a minha procura, vejo vagamente seus corpos, brilhantes
que se vestem elegantemente, de branco. Seus trajes se assemelham a um terno, mas não
se vestem de tecido, e sim de ternura.
Ajo, instintivamente, e me encolho, seguro minha cabeça para não soltar verdades. Todavia, é tarde.Acharam-me.
Em poucos segundos estão em minha frente, acariciando-me a face, segurando meus
pensamentos, apenas querem me fazer esquecer! Já tiraram demais de mim, mas não
estão satisfeitos, ainda querem o resto de desespero e loucura que ainda me
resta. Sarcasticamente, se entreolham. O menor senta-se ao meu lado, enquanto
os outros dois seguram minhas mãos e pernas e riem. Não vejo graça. Não penso
mais nada.Não consigo definir o que vejo, não são homens, são... Trisca-me o
ouvido:
“Queremos apenas teu silêncio.”
Agora sei.
Não são homens, são figuras. Figuras de linguagem não utilizadas.
Não são homens, são figuras. Figuras de linguagem não utilizadas.
(Milly Almeida* 19/12/2012)