sábado, 1 de junho de 2013

Vultos que furtam




        Sala. Penumbra, janela. Cama. Estou só, ferida. Tudo está escuro. Há somente uma luz que adentra a janela e ilumina alguns móveis, o carpete e uma parte dos dedos do pé que estão pretos de tinta.  Não gosto do que vejo. Estou vulnerável. Contorço-me de angústias e de dor, segurando minhas felicidades, como um animal que cuida de sua prole. Ouço ruídos, não vejo nada, mas sinto invadirem o quarto, como vultos que me rodeiam. Grito verdades ilusórias, no mínimo esperançosas. “Não irão me tomar!”
       A porta se abre.
       Estão a minha procura, vejo vagamente seus corpos, brilhantes que se vestem elegantemente, de branco.  Seus trajes se assemelham a um terno, mas não se vestem de tecido, e sim de ternura.
      Ajo, instintivamente, e me encolho, seguro minha cabeça para não soltar verdades. Todavia, é tarde.Acharam-me. Em poucos segundos estão em minha frente, acariciando-me a face, segurando meus pensamentos, apenas querem me fazer esquecer! Já tiraram demais de mim, mas não estão satisfeitos, ainda querem o resto de desespero e loucura que ainda me resta. Sarcasticamente, se entreolham. O menor senta-se ao meu lado, enquanto os outros dois seguram minhas mãos e pernas e riem. Não vejo graça. Não penso mais nada.Não consigo definir o que vejo, não são homens, são... Trisca-me o ouvido:
     “Queremos apenas teu silêncio.”
      Agora sei.
      Não são homens, são figuras. Figuras de linguagem não utilizadas.

                        (Milly Almeida* 19/12/2012)